30 março 2010

pano para mangas II



o alentejo no máximo esplendor. nos céus águias fazem pinchos e lançam-se sobre presas. espinheiros brancos de flor explodem em perfume, despontando odores. doces e rudes azinheiras, belas e floridas. apelos de toda a natureza. que vontade de captar todas as imagens e retê-las para sempre no olhar. as cotovias com as suas altas poupinhas cantam a sua fala, pousadas na beira do caminho. trigueirões empuleirados no mais alto raminho.
que desejo de guardar este soar, para sempre. o lápis preto não consegue desenhar os caracteres de todas as emoções. um casal de andorinhas das barreiras, lindíssimas, fazem uma tentativa de amor. cartaxinhos pousam no arame farpado. apenas o arame farpado que não nos deixa sair do caminho, me rasga o braço e trás de volta à realidade. já não é possível andar pelo campo em liberdade. e aquelas vontades que nos dão e aquele pensamento que nos surge, quando estamos cagando ao vento, como escrevia bocage. agora não podemos. os senhores do alentejo não deixam.  

29 março 2010

(im)perfeição





humana condição
o saber
que é (im)perfeição
que em si
existe

mas resiste
e
insiste

na utopia
de fazer
a noite clara
perfeito
o dia

vã e duvidosa ciência

consciência
que nos empurra
em permanência
nesta procura
infinda
da inocência

27 março 2010

pano para mangas



os fins de semana no alentejo dão-me sempre pano para mangas. as idas ao mercado de évora e os cheiros fortes do queijo, que quase nos tombam para o lado, de mistura com o das tôrtas polvilhadas de canela e o sabor característico da manteiga de porco. com azeitonas! o doce e o salgado, maravilha. passamos pelo jardim público e resolvemos descansar um pouco na esplanada. conversando e ouvindo as falas dos outros. falares ibéricos, do oriente, sei lá quantos mais pela cidade. por cima de nós esvoaçam andorinhas em voos rasantes. e naturalmente a fala cantada de évora. que já na noite anterior tínhamos apreciado, no belo até amanhã de antónio murteira. de regresso a casa e ao quintal aí temos a primavera, em perfumes e cores. a passarada outra vez. pardais que vêm às migalhas do pão, pintassilgos, até caldeiranitos ou chapins, conforme a fala, algarvia ou alentejana. assim lhe chamamos nós, que a nós próprios nos chamamos humanos. como se chamarão eles entre si. cantam melros, arrulham pombos e rolas… e pelo meio o tremor de terra. subiu das profundezas em zumbido crescente e assustador e terminou em explosão. como o bing bang de qualquer coisa. correrias e gritos de aviso…agora que voltou a serenidade, pronto! acabou-se-me o espírito bucólico.

26 março 2010

mulheres meninas do alentejo



quando eu era menina e vivia no alentejo, as raparigas tornavam-se mulheres muito cedo. a mudança era quase repentina e começava com a puberdade. a partir da primeira menstruação mudava tudo. acabavam-se as brincas na rua, o sentar descuidado nos portados. era preciso preservar a todo o custo a virgindade. a mudança de estatuto de menina para mulhar era tão repentina que não dava tempo a que nos habituássemos e então era só descomposturas «fecha essas pernas», «puxa essa saia para baixo». umas boas nalgadas ajudavam a não esquecer o recado. mas o corpo crescia mais depressa que o cérebro e por vezes tinham de se realizar casamentos à pressa. antes que o vestido branco, símbolo de pureza imaculada, levantasse muito, à frente. outras fugiam com os namorados. no dia seguinte ouvia-se «fulana fugiu com sicrano», que era o mesmo que terem-se (a)juntado. fugiam sempre para casa do namorado, claro! o pai da rapariga não consentiria tais poucas vergonhas em casa. e depois a mãe é que ouvia, do pai e da vizinhança. o namoro começava cedo, quase desde a escola. rapariga que namorasse mais do que um já não era boa. algumas «nunca mais ninguém lhe pegava». como se tivessem lepra. se engravidavam e não casavam era uma desgraça. para elas e para a família. quando o namoro prosseguia sem sobressaltos, o rapaz ia para a guerra do ultramar. muitos voltaram na caixa de pinho. e elas nunca casaram. conheci algumas. enquanto eles estavam na guerra, quase três anos de tropa, elas vestiam uma roupa escura, cinzenta. não saíam a passear. não podiam falar com os rapazes da idade delas. ficariam muito mal vistas. a família do namorado encarregava-se da vigilância. casacos, aventais e saias de chita, tudo escuro e cinzento. lenço na cabeça, em rebuço e «caluda», não dês muito nas vistas. era um país mesmo cinzento, esse da minha meninice. felizmente apanhei o 25 de abril. a revolução devolveu a cor e o sorriso a portugal. a partir daí foi um tempo de furta-cores, ou arco-íris. as pessoas tornaram-se mais felizes. não podemos deixar agora que uns troca cores estraguem tudo.

25 março 2010

resposta da associação griot ao poema primavera com poesia




Rosalina
Em continuidade ao seu poema e porque tb foi uma honra para nós,
aqui fica a nossa contribuição para complementar o seu poema;

como pombos abraçamos
 braviamente a partilha
Como rodopios traçamos
a alegria da maravilha

Se num arco-íris seduzimos
mais de mil cores reunimos
e somos um, 
abraço quente,
primavera luminosa
ou partilha esperançosa


Beijinho
Griot


obrigado
à
Anaína Lourenço
Daniel Martinho
Miguel Sermão
Matamba Joaquim
Ângelo Torres

22 março 2010

poesia com primavera

auditório municipal augusto cabrita
barreiro

os bravos pombos
chegam aos bandos

estorninhos em rodopio
traçam no ar
desafios

gente que é campo
em mil cores
arco-íris
sedutores

arco-íris de gente
primavera luminosa

abraço quente

21 março 2010

21 março dia mundial da poesia


VIVAM OS POETAS
VIVA A POESIA

Saúdo todos os Poetas de Portugal e Mundiais, todos os Poetas da Lusofonia,e meus colegas Universais da PAZ, os "Poetas del Mundo" aqui deixo o convite para que neste 21 de Março Dia Mundial da Poesia os Poetas de Portugal adiram a Poetas del Mundo sediado no Chile, com o site do mesmo nome

Marília Gonçalves

20 março 2010

a caminho das estrelas



quando atirei
a culpa
para o caixote do lixo
fiquei leve,
limpa.

voei
subi
em espiral.

já passei a M31
rumo ao infinito
e continuo vagueando
pelo Universo



18 março 2010

a luta de classes na grécia


os governantes de portugal arrastam  o nosso país para a mesma senda que os da grécia. será que teremos a capacidade de resistir como estão a resistir as massas na grécia? será que este trocas-te vai continuar a governar para si e os seus amigos e a levar o país cada vez mais para baixo? é mais uma lição histórica e um grande exemplo de resistência que a grécia está a dar à europa e ao mundo. temos de acompanhar o desenvolvimento da luta de classes na grécia através de informação externa, já que os nossos media quase ignoram o assunto. estão quase todos muito bem caladinhos... porque será?

“Na quinta-feira 11 de Março, as ruas em 68 cidades e vilas foram rios caudalosos, com a determinação de trabalhadores, jovens, mulheres e pensionistas demonstrada pelo PAME.


Foi a quarta greve em um período de um mês, que ficou marcada pela participação do povo em massa e pela sua dinâmica.

Dezenas de milhares de pessoas protestaram contra os cortes graves e as medidas fiscais que foram iniciadas pelo grande capital e votadas pelo governo social-democrata do PASOK, junto com o LAOS, nacionalista, e também apoiados pelos liberais da ND e pela Federação Helénica de Empresas.

As classes assalariadas, orientando as suas forças, travaram mais uma dura batalha contra a intimidação lançada pelos patrões e seus agentes, o que enriqueceu a experiência militante do povo trabalhador. Muitas pessoas conseguiram superar as suas hesitações e entraram em greve pela primeira vez.


http://jdei.wordpress.com/2010/03/16/saudacao-fraternal-aos-camaradas-gregos/

16 março 2010

dia mundial da poesia



depois deste fim de semana de férias na suiça - onde fizemos uma colheita de saudades e logo lançámos a semente das próximas e como diz marília gonçalves as saudades não se matam porque logo outras nascem - de regresso ao trabalho e ao blog, agora é tempo de dar tudo para o dia mundial da poesia. para que filipe chinita e manuel gusmão tenham um dia da poesia digno da sua cantata, no barreiro. todas e todos são bem vindos se vierem por bem, e trouxerem outro amigo também! como cantou o poeta zeca afonso.

09 março 2010

o fim de semana... que passou


lindo! assim está o alentejo muito verdinho, como escreveu camões e cantou zeca afonso.  os campos rebinchando de água. é só regatinhos e ribeiras, tudo a correr, em fugas pequeninas, rápidas. águas clárinhas (uma outra entoação de cristalinas). o  guerreiro almansor, rio rei  maior de montemor, a transbordar. sempre mais largas as margens da constante mutação. ano de todas as águas. tanta chuva! até a estrada se torna perigosa. no mercado de évora já quase ninguém. o homem da água-mel já tinha tudo arrecadado, mas lá vendeu uma garrafinha. rábanos para comer com pão e azeitonas. com uma açorda é indispensável. tôrtas e popias. queijinhos do cano, oriola e até um de serpa de nome almocreva(!). no caminho o xarrama,  ainda junto à nascente já leva tudo à frente. toma caminho na senhora dos aflitos e segue solitário até se encontrar com o sado. a barragem do divor quase cheia.será desta!? à beira da estrada a primavera faz sorrisos em caternotas e pátinhas amarelas, entremeadas de saramagos brancos, mais umas cor-de-rosa, as cadeirinhas. ainda não há lírios por aqui. felizmente não havia água em casa. os telhados portaram-se bem. nem uma goteira. enquanto o almoço é preparado faz-se o lume, que a casa está fria. o quintal começa a ficar bonito. os bolbos nasceram todos. há muitos botões. aos primeiros raios de sol vão abrir em perfumes, goivos, jarros, jacintos, cravos. as leiras de coentros e espinafres aguentaram-se, não houve muitas geadas. espigos de couve com fartura. as roseiras, podadas em janeiro, rebentam com força. já o lume crepita e o cheiro do caldo de peixe com poejos inunda toda a casa. estava uma maravilha! especialidades do cozinheiro da casa.

08 março 2010

oito de março dia internacional da mulher


poema de António José da Costa

Este dia que é de luta
Por mim sentida a valer,
Não é de quem a refuta
Evive em grande disputa
No tudo p'ra si querer

É teu óh Mulher querida
Que lutas no dia a dia
Para transformar a vida
Que é bastante enegrecida
Neste mar de hipocrisia

P'ra melhor compreensão
De quem a Esquerda
rejeita
E vive na podridão
Da profunda negação
Mas vota, sempre, Direita

Digo: a História não se faz
Com quem está por estar aqui,
Mas sim por quem é capaz
Naquilo que lhe compraz,
Dar o melhor de si

hoje à noite no AMAC


apresentação do livro de lina sores Sob o Olhar da Deusa, no amac às 21h,
integrado no programa dia internacional da mulher - 8 de março  - com o apoio da câmara municipal do barreiro.
«Neste livro, a metáfora é usada com mestria, evidencia saberes antigos das teogonias egípcias, faz incursões pelos livros sagrados de tradição judaico-cristã, mistura o profano com o sagrado religando-o no seu sentido mais lacto e, sendo uma Mulher da área das ciências sociais e humanas, os contos retratam o seu conhecimento mas também a sua práxis de viagens, um saber de experiência feito.» in Prefácio, Ana Pires da Silva (Doutora em Antropologia Social)

«Lina Soares surge-nos aqui numa escrita das águas, de rios e de mar. Um outro lado do feminino.
"A Deusa manifesta-se em cada mulher, nas três faces, a Virgem, a Mâe e a Sábia." Mas podem ser muitas mais, como o demonstram as suas nove estórias sobre mulheres. Ou sobre a mulher.» in Posfácio, Rosalina Carmona (Investigadora de História Local)

03 março 2010

terra



cavar
a terra

penetrá-la fundo
com a enxada
extensão de mim

senti-la húmida
macia
pela chuva
da madrugada

cavar
corpo a dobrar

esforço

movimento
cadenciado

acima
abaixo

corpo cansado

sinto-o no arquejar
da terra
em mim

não posso parar
a vontade
pede

continuar
até ao fim

e ei-la
enfim
escura
branda
ventre
pele fina

fecundada

guarda a semente
que germina

na espera
da primavera