26 setembro 2010
08 setembro 2010
ontem pela manhã
ontem pela manhã
a chuva foi chegando
mansinha
devagar
manhã de setembro
fina como tule
foi-se agitando o rio
em tons de seda lavrada
rumorosa
e
as árvores da bento gonçalves
quando o vento as faz baloiçar
acordam em sons
como alguém a pisar
a caruma dos pinhais
e é como se
nesses passos
alguém
encontrasse num repente
e puxasse
o fio
das memórias perdidas
escondidas
intemporais
a chuva
com agulhas fininhas
vai-me furando a pele
e ameaça acabar com o meu passeio
pelo barreiro velho
recolho-me
numa rua estreitinha
no alto do hospital
entro por uma travessinha
sem nome
e em passo lento
atravesso
atravesso
num suave retrocesso
um local
fora do tempo
e eis maria vicente
mulher quinhentista
burguesa
do barreiro natural e vivente
à porta de seu hospital
que ali fundou
para a pobreza
num pequeno janelo
dois pares de olhos
verdes
coruscantes
em anelo
espreitam
maria vicente
e suas gatas à janela
entro
e converso com elas
e converso com elas
penso na máquina
do tempo
se eu conseguir tirar!...
a fotografia
mas quebro a magia
fogem os gatos
e oiço uma voz
trocista
estas gatas são umas artistas
não se deixam fotografar
ontem pela manhã
a chuva correu a cortina
do verão
e declarou o fim das minhas férias
mas foi em vão
não me apetece voltar
à rotina
vou continuar no verão
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