chocante exploração dos recursos, com vista à produção maciça de lucro
sem qualquer preocupação com o futuro
beleza e racionalidade do olival tradicional
o alentejo está a mudar
a paisagem que eu conheci está a desaparecer
rápida e dramaticamente
qualquer dia não conheço o lugar onde nasci
a planície, terra do pão, já não existe
ninguém cultiva hoje pão, no alentejo
as melhores terras da planície estão agora a ser transformadas em campos de produção de azeite
olivais de produção massiva e intensiva
olivais para produzir apenas por uma dúzia de anos
com árvores controladas para que não cresçam mais que até à altura das máquinas que vão apanhar o fruto
olivais hibridos
com oliveiras fabricadas em laboratórios
que produzem bagas redondinhas, em vez de azeitonas
bagas de oliva
bagas que são, várias vezes ao dia, regadas e pulverizadas para que cresçam e amadureçam rapidamente
é impressionante a quantidade de produtos químicos que são descarregados para os solos, todos os dias, a toda a hora para que não nasçam ervas e morram todos os insectos
entretanto o olival tradicional vai desaparecendo e a produção de cereais que lhe estava associada é quase residual e vai dando lugar a este fenómemo de produção intensissima cujo desfecho é previsível, quanto ao esgotamento dos solos
e ainda pior! é que toda a riqueza produzida não fica no país, porque os donos dos olivais não são portugueses
nem contribuem para o desenvolvimento local, porque empregam escassa mão de obra e destroem a nossa agricultura
além dos benefícios que ainda recebem, pois nem sequer a água da rega pagam durante dois anos
foi para isto que se construíu alqueva?
não creio
e os agricultores alentejanos? porque estão de braços cruzados?
aflige-me e choca-me ver aquilo em que o alentejo está a ser transformado
quando alguém acordar para este problema pode ser tarde demais