15 dezembro 2011

olivais velhos de moura


olivais velhos de moura

velhas oliveiras que alumiaram moura

com mil candeias


oliveiras de paz

árvores de luz

encontrei-vos

na poesia de um pátio andaluz


pelos olivais

que cercam moura

salúquia

ainda vagueia


e o seu olhar

doce como o azeite

é o de tantas
mouras

de negros olhos

como a negra noite


noites e noites a fio


em desafio

ou deleite

assomadas

em seu castelo

das ameias soltam sonhos

feitos estrelas


que brilham no céu

tão imenso

ou tão belo

como elas


e quando raiam as madrugadas

ei-las

que sem pressas

abalam


embaladas

num apelo


e não sei se elas

ou eu

07 dezembro 2011

josé régio, soneto (quase) inédito








Surge Janeiro frio e pardacento,
Descem da serra os lobos ao povoado;
Assentam-se os fantoches em São Bento
E o Decreto da fome é publicado.

Edita-se a novela do Orçamento;
Cresce a miséria ao povo amordaçado;
Mas os biltres do novo parlamento
Usufruem seis contos de ordenado.

E enquanto à fome o povo se estiola,
Certo santo pupilo de Loyola,
Mistura de judeu e de vilão,

Também faz o pequeno “sacrifício”
De trinta contos – só! – por seu ofício
Receber, a bem dele... e da nação.



soneto de José Régio, 1969


03 dezembro 2011

finisterra


  fim de tarde

de um tempo qualquer


 finos véus

leves
suaves

quase

ocultam a cidade

desvenda-se o rio

em largo oceano

no olhar que se perde

quase melancolia

quase saudade



a  noite

 vem chegando

adejando

nas asas de uma gaivota


perde-se o dia

e em sombras e luz

a noite erra

aqui

onde estou

(apenas eu sei)

é finisterra