24 abril 2012

que fizemos ao sonho





que fizemos ao sonho
liberto
na madrugada

 aos sorrisos abertos

às noites
e à claridade dos dias
despertos

o que resta
da alvorada
do dia novo

pouco
quase nada

 apenas
uma réstea de esperança
subsiste

um quase nada
que em nós carregamos


esperança
da cor da coragem

coragem desassombrada
 alimento e mágoa
sede e água
poema do instante original

aquele
que em galope
 nos irrompeu
vida fora

como se o nosso olhar
e ser
assim nascera
e sempre fôra

 instante
que nos vai acompanhar
 até ao fim do tempo

este foi
o momento

a um tempo
todos fomos um
e
uno
 foi
portugal

rc


revolução
poema de sophia de mello breyner andresen

esta é a madrugada
que eu esperava
o dia inicial
inteiro e limpo

onde emergimos da noite 
e do silêncio

e livres
habitamos 
substância do tempo

sophia de mello breyner andresen

18 abril 2012

Imensidão no Silêncio





Rasgar a luz até ao infinito
Ir além de cada nevoeiro
Trepar a dor constante
Atravessar o grito
Na persistência de cada criador
Erguer-se em deus senhor.
Libertar em cada Prometeu
A luz dele mesmo ignorada
Desafiar os deuses que se calam
Diante da Humanidade abandonada.
Arremessar o gesto libertário
Para além de todas as fronteiras
No movimento contrário
Ás leis malquistas financeiras.
Dilacerar espelhos falsários
Uivar esta dor que trago em mim
De tantos aniversários
De funesto festim
O silêncio é a música da festa
da sinistra noitada
os poetas vão escorrendo versos
mas são palavras soltas
não servem a mais nada
Não erguem corações a palpitar
como estrelas furando a imensidão
atravessam o tempo o espaço o mar
sem chegarem a ser pão
o pão que se reparte
um pão que seja natural
como é a poesia e a Arte.
E nem Apolo acode, nem as Musas
Hipocrene secou
E do sangue de todas as medusas
um ser de pedra e pó nos povoou.
Trazemos no rosto um olhar cego
Uma boca sem voz
E assistimos no maior sossego
Ao sacrifício de cada um de nós.
E esta dor que cresce e que me rasga
Contrária à indiferença
É feita do espanto acumulado
Do absurdo da letal presença.
Um mundo repleto do fantasma
Como se transparente
Não fosse mais que o plasma
Da lei inexistente...

Aonde o ser humano que esfacela
A história que velhinha
Extravasa da estrela que revela
A estrada onde caminha!

Marília Gonçalves