11 março 2013

uma luz que se apagou



quando os campos  começam a tingir-se de cores, atapetados por uma erva vermelha, que cresce rasteira nos montados...

quando afago o tronco, rude, das azinheiras e o sinto macio, coberto de musgo

quando uma brisa que busco, me transporta pelo campo aberto
à planície dos odores  intensos da tremocilha...

quando oiço o cuco cantar e é já primavera... ainda que o calendário diga o contrário...

quando por todo o lado a vida fervilha....

ainda assim, a morte me surpreende.
consegue sempre surpreender-nos, a morte,  levando aqueles que,  mesmo já o sabendo nós,  partiriam antes...  nunca a esperamos.
e é sempre surpeendente.
apanha-nos inocentes e desprevenidos.

e pensamos
um dia também o meu corpo partirá
e o meu ser deixará
de ser
e deixarei de saber
que a primavera chegou
qual o cheiro da terra lavrada
porque cantam as rolas em revoada
um certo voar da arvéola, ao fazer o ninho
como corre, assim ligeiro, aquele barranquinho
que uma trovoada súbita inundou

e o meu corpo será nada
nem já pó restará dele

talvez apenas, e tão só, uma lembrança
que trago colada à pele
do que fui
do que ainda sou

mas depois e depois...
nada

que sei eu, de quem, há mil anos por aqui andou

talvez reste de mim
uma luz que se apagou

2 comentários:

Manuela Carneiro disse...

Adorei o poema!
Cptºs

só planície disse...

obrigado, manuela carneiro.