quando os campos começam a tingir-se de cores, atapetados por uma erva vermelha, que cresce rasteira nos montados...
quando afago o tronco, rude, das azinheiras e o sinto macio, coberto de musgo
quando uma brisa que busco, me transporta pelo campo aberto
à planície dos odores intensos da tremocilha...
à planície dos odores intensos da tremocilha...
quando oiço o cuco cantar e é já primavera... ainda que o calendário diga o contrário...
quando por todo o lado a vida fervilha....
ainda assim, a morte me surpreende.
consegue sempre surpreender-nos, a morte, levando aqueles que, mesmo já o sabendo nós, partiriam antes... nunca a esperamos.
e é sempre surpeendente.
apanha-nos inocentes e desprevenidos.
apanha-nos inocentes e desprevenidos.
e pensamos
um dia também o meu corpo partirá
e o meu ser deixará
de ser
e deixarei de saber
que a primavera chegou
qual o cheiro da terra lavrada
porque cantam as rolas em revoada
um certo voar da arvéola, ao fazer o ninho
um certo voar da arvéola, ao fazer o ninho
como corre, assim ligeiro, aquele barranquinho
que uma trovoada súbita inundou
e o meu corpo será nada
nem já pó restará dele
talvez apenas, e tão só, uma lembrança
que trago colada à pele
que trago colada à pele
do que fui
do que ainda sou
mas depois e depois...
nada
que sei eu, de quem, há mil anos por aqui andou
talvez reste de mim
uma luz que se apagou
2 comentários:
Adorei o poema!
Cptºs
obrigado, manuela carneiro.
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